Conhecendo melhor nossa “Santa & Bela Catarina” – a 5ª viagem... 5 de 7: faz por 50 pila até Iomerê?
Escrito por: Rodrigo Martins em 21/03/2014

Sono profundo somente interrompido por um ébrio casal que perturbou o andar inteiro do suntuoso hotel acordando o populacho pedalante que ali dormia. Aproveitei para puxar o edredom, pois alguém exagerou ao apertar demais a setinha para baixo do controle do ar-condicionado. Essa mesma infeliz criatura, ao invés de sentir a sintonia e puxar também uma coberta – no apogeu da madrugada resolve dar um desliga no brinquedo e acabei acordando encharcado, achando até que estava com febre. Liguei o diacho do ar novamente e mais cedo despertei do sono dos justos com uma xaropeante ladainha de gente reclamando que o quarto estava frio à beça. Campanha para quartos individuais na próxima viagem cada vez ganhando mais consistência. De qualquer maneira, foi uma boa noite de sono e conseguimos ficar na cama até perto das 8h. O pomposo café da manhã causou uma comoção generalizada nos quatro reles pseudociclistas que aproveitaram bem a rara oportunidade de poder comer bem logo de manhã cedo. Na rua ventava um bocado e fazia mais frio do que gostaríamos. Tivemos que cruzar toda a cidade novamente, embora, desta vez, alegremente descendo. Parada providencial na farmácia para cada qual cuidar devidamente da sua respectiva sequela dos dias de estrada pedalando: antitérmico, anti-inflamatório, antidepressivo, band-aid, protetor solar... posto que, a pomada para assadura de forévis tenha sido a constante. Mais a frente outra parada, desta vez numa oficina de bike para uma rápida manutenção nas garupas - e lá se foi a manhã toda praticamente. Quando cruzamos Luzerna já estávamos perto do meio-dia, passando rapidamente e só parando para comprar água gelada num mercadinho qualquer. Junto com a bela estradinha de chão, um escaldante sol ganhou forma, maltratando de vez o infame grupelho.

DIA 5) DE JOAÇABA À VIDEIRA – PASSANDO POR HERVAL D’OESTE, LUZERNA, TREZE TÍLIAS E IOMERÊ...

Foi um interminável sobe e desce, com algumas curvas tão fechadas que deixou o GPS transtornado, apitando desvairadamente. Fez muito calor no início da tarde e sorrimos ao encontrar vários pés socados de laranja. Já cansados pelas constantes subidas, além de enganar a fome, o azedume do fruto alaranjado fez a gente despertar um pouco, além de a doce sombra providencial esfriar o cocuruto escaldado. Roberto seguiu em frente e só o encontramos mais de uma hora depois, com aspecto tristonho, preocupado com o sumiço dos outros três comparsas que aproveitaram por algum tempo a boa sombra.

Descemos bastante antes de começar a subir novamente. O ritmo era lento e inquieto fiquei ao perceber os colegas ficando cada vez mais para trás. Olhar para o relógio e logo em seguida para o GPS - gerou uma desconfortável preocupação, pois havia estrada demais e tempo de menos. Em algumas subidas que nem eram tão fortes - vi a preguiçosa facção do grupo desmontar das bicicletas para dar aquela marota e constrangedora empurradela e me senti muito incomodado. Roberto me fez rir ao comemorar o fato de que pelo menos desta vez - ele não era o pior do grupo. O morro maior ainda estava por vir e se no simplório outeiro estava sendo aquela lástima, melhor nem pensar no infeliz adiante. Baixei a cabeça e continuei pedalando resignado, um pouco decepcionado com a falta de comprometimento dos comparsas de pedal.

Chegamos na mais austríaca das cidades brasileiras por volta das 16h30 e ainda com muita esperança de poder almoçar. Bonita e organizada, Treze Tílias preserva muito bem as características de suas origens tirolesas e austríacas, não sendo difícil escutar alguém tagarelando em alemão pelas ruas da cidade. Capital do que seria? – intrigados nos perguntamos.  “Dos escultores e esculturas em madeira”, numa providencial googlada, que matou a curiosidade dos desocupados mancebos que brincavam com os celulares enquanto aguardavam o X-Salada ficar pronto. Perguntamos qual o significado do nome da cidade e ninguém nos respondeu de forma convincente. A simpática garçonete até se esforçou, mas contou uma história longa demais o que acabou fazendo-nos perder o interesse. Enquanto comíamos surgiu a ideia de pegar carona novamente, o que me fez franzir a testa de imediato. Olhando para o aspecto lamentável dos três errantes, nem fazia sentido eu bater o pé e me abstive de reclamar qualquer coisa nesse sentido. Felipe, o gentil atendente da lanchonete se empenhou um bocado ligando frustradamente para várias pessoas. Ao longe o escutávamos ao telefone sem conseguir conter o riso do engraçado jeito de falar do sujeito: - Opa, "arumei" um frete, pra tu levar uns piá de bicicleta até Iomerê. Sem sucesso, nos sugeriu que tentássemos a sorte grande no posto de gasolina, sendo que lá, Marcelo não demorou muito até conseguir convencer um engraçado caboclo a nos levar até o próximo lugarejo pela singela bagatela de 50 pila - que Roberto fez questão de pagar. Desde que desta vez fosse na cabine, oras pois.

O sujeito foi num pau do caramba e quem foi atrás na carroceria junto com as bikes se emocionou imaginando o fim da vida precocemente. Ignorar buraco na estrada e saltar pequenas pontes parecia ser sua macabra especialidade, e não ter caído da caminhonete já foi um alento para nós, os desafortunados ocupantes da caçamba do carro endiabrado. Aceitei a carona de muito contragosto, entristecido inclusive, mas ao ver o carro subir continuamente por um longo período - acabei me conformando e aceitei o fato de que naquelas condições não havia como seguir tal caminho e ao mesmo tempo chegar num horário aceitável no hotel. Descemos em Iomerê por volta das 18h30 e tratamos de nos agasalhar adequadamente, pois naquele momento fazia frio horrores. Dos menores municípios que já cruzamos e toda a população não chega a encher um pequeno ginásio. Já estava escuro e nem deu para observar muita coisa. Pedalamos pelo menos mais uns dez quilômetros até o hotel, estacionando as bicicletas antes mesmo do Jornal Nacional começar. A boa notícia era que desta vez os quartos seriam individuais! Marcelo eu não sei o que jantou e sei que Roberto pediu uma pizza por telefone. Rodrigo e Fernando foram ao supermercado e brincaram de gastar dinheiro com delícias enfartantes: Doritos, Baconzitos, amendoim de chocolate e a Pepsi mais gelada que encontraram. Banheiro sem fila e na TV passando Os Simpsons. Resisti o máximo que consegui, mas fui vencido facilmente pelo sono que sequer demorou a vir. 

Quinta etapa concluída num dia que começou frio, mas logo esquentou demais. Subimos e descemos como nunca e em Treze Tílias apelamos para mais uma carona novamente, sendo que o quarto individual de Videira foi a coqueluche dessa viagem.

Comentários
Ter, 25 de março de 2014
Por: Eleonesio Diomar Leitzke
Show o relato e as fotos, lugar fantástico. Me peguei imaginando a cena de vcs voando na caçamba da caminhonete. Abraços.
Sex, 21 de março de 2014
Por: Heil
Caros:

Belos trechos de chão. Por favor, compartilhem as track's da viagem no site, para que todos possam usufruir destas belezas. Sugestão de sites para cadastro:http://pt.wikiloc.com/wikiloc/find.do?t=&d=&lfr=&lto=&src=&act=&q=joa%C3%A7aba e http://www.gpsies.com/trackList.do

Abcs
Heil
Sex, 21 de março de 2014
Por: Dorgivan santos
Como sempre uma linda e bela viagem, o sol acredito que por ai deva ser não tão quente como aqui no nordeste, que geramente pedalamos sobre 41 ou 44 Graus,As fotos belissimas e pedalr não tem preço, parabéns amigos bikers por mais uma linda e sofrida cicloviagem.
Sex, 21 de março de 2014
Por: Éder Strutz
Muito Legal o relato deste pedal... Como sempre o pedal de vocês tem uma ótima narrativa com muita aventura!!!!